“Bicho de Sete Cabeças” foi lançado há quase 40 anos. Já pensou por quantas transformações um artista e a sua obra podem passar nesse tempo? O que pode ter sido agregado, desenvolvido ou mudado na sua bagagem de criação e apreciação? Quantas interpretações diferentes já podem ter sido feitas da sua arte? Os olhares são muitos e cada cabeça carrega um mundo, que vai girando por aí, tateando e explorando o que vê.
Imagine um bicho com Sete Cabeças exploradoras… Não deve ser nada fácil de observar, de digerir, de interpretar. Uma vez conhecido, não tem coração que esqueça. Então, não tem jeito mesmo, é preciso voltar a ele para se tentar entender um pouco mais e descobrir coisas novas. E foi assim que várias pessoas, que já tiveram contato com o Bicho, lotaram o teatro do SESC Belenzinho para ouvir as releituras de Geraldo Azevedo de um dos discos mais icônicos da sua carreira. Lançado em 1979, “Bicho de Sete Cabeças” apresenta um compositor mais amadurecido e desponta nas rádios brasileiras com a música “Táxi Lunar” (Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho), primeiro sucesso radiofônico do artista, que o projetou nacionalmente.
Agora, quase 40 anos depois, Geraldo resgatou seu repertório e reapresentou o trabalho nos palcos de São Paulo, nos dias 11 e 12 de maio. Foi a estreia de um novo projeto que seguirá viajando pelo país com uma interpretação carregada pelas transformações vividas nessas quatro décadas.
Com o formato acústico, o show trouxe um clima aconchegante, envolvendo e emocionando a plateia com as releituras de grandes músicas. Geraldo e a banda passearam por canções emblemáticas do disco, como a já citada “Táxi Lunar”, “Bicho de Sete Cabeças” (Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e Renato Rocha), “Veneza Americana” (Carlos Fernando e Geraldo Azevedo) e “Semente de Adão” (Carlos Fernando e Geraldo Azevedo), e apresentam ainda os clássicos “Caravana” (Geraldo e Alceu Valença), “Dia Branco” (Geraldo Azevedo e Renato Rocha), “Moça Bonita” (Geraldo Azevedo e Capinan) e tantas outras, sempre acompanhadas por um coro afinado e empolgado do público.
Com uma banda formada por músicos de Pernambuco, Geraldo se aproximou da plateia trazendo de uma forma mais íntima um show que navega com força por suas raízes e pelo seu atual momento musical. No palco, ele foi acompanhando por Bráulio Araújo no contrabaixo, Marcelo Pereira na bateria, Marcos Diniz no teclado, Junior Xanfer na guitarra, Clarice Azevedo no vocal e César Michiles na flauta e na direção musical do espetáculo.
Geraldo Azevedo considera “Bicho de Sete Cabeças” irmão do disco “Ave de Prata”, que lançou Elba Ramalho. Ambos foram produzidos juntos por Carlos Alberto Sion e dividiram estúdio, músicos e ideias. A cantora paraibana está na faixa que dá título ao disco de Geraldo Azevedo, que por sua vez assina a direção musical e os arranjos do disco de Elba. Outra particularidade deste trabalho é a presença de Dona Nenzinha, mãe do artista, grande responsável por sua formação musical, que participa da música “Natureza Viva” (Carlos Fernando e Geraldo Azevedo). Ela saiu de Jatobá, interior de Pernambuco, para o Rio de Janeiro para participar do terceiro disco de Geraldo. É o único registro dela em toda a discografia do filho.
Maria Carolina Rodrigues