O Cantor, a Sanfona e a Orquestra

Ali todo mundo andou junto. Pé com pé. Como se as cordas dessem as mãos e dançassem “Dia Branco” ao ouvirem o violão e a voz de Geraldo Azevedo. A imersão de instrumentos tradicionalmente eruditos na música popular extasiou o público, que acompanhou empolgado com os olhos e ouvidos atentos. A sutileza dessa mistura explorou a beleza das canções de Geraldo. E as marcas que ficaram em cada um da platéia é algo que não se perde mais, feito um segredo que fica guardado e não pode ser repassado. Foi a sensibilidade e o amor emanados do palco, que adentrou os corpos no formato de som. 

Marcelo Caldi harmonizou todos os três elementos da apresentação: o cantor, a orquestra e a sua sanfona. A Orquestra Sinfônica Cesgranrio e os arranjos de Caldi trouxeram uma roupagem diferente para o universo sonoro de Geraldo, mas mantiveram a sua essência. Ao todo foram sete apresentações nos teatros do Sesi pelo Rio de Janeiro. Todas muito emocionantes, no qual a platéia era transportada para um outro lugar através das canções de Geraldo. Momentos tão grandiosos, afetuosos e necessários diante do contexto atual. Os olhares eram de admiração, dando ao clima um ar de amabilidade. Em alguns momentos, a emoção do público foi tão forte que reverberou de volta para o palco. No show do dia 20 de outubro, no Teatro do Sesi de Duque de Caxias, por exemplo, Geraldo não se conteve e desceu do palco para se juntar ao coro da platéia durante a música “Dia Branco”, como quem vê ali que a energia do palco e do público estava irmanada em uma só.

A turnê fez parte do projeto “Brasilidade”, no qual a Orquestra Cesgranrio homenageia grandes nomes da música nacional. A soma da regência do maestro Eder Paolozzi, com a precisão dos jovens músicos, e os arranjos e a sanfona de Marcelo Caldi causou uma afloração de sensações únicas, que só releituras e interpretações que estão à altura da obra de Geraldo são capazes de fazer.

Fotos: Ricardo Manna